A Criatividade
Eis que me encontro num descampado muito pouco iluminado, perdido no meio de uma amena noite alentejana. A luz mais próxima a umas razoáveis dezenas de metros. As estrelas aí a coisa de três palmos. Estão todas no lugar, como alguém assim as arrumou um dia. Alguém cheio de imaginação - note-se - ou não fosse a Ursa Menor (ou será maior?) um quadrado com um risco estelar de vontade ascendente própria. Permaneci neste pensamento. «Se há coisas que me fascinam, esta tem seguramente potencial para ser uma delas». Regressei aos estímulos visuais que me chegavam e pus em prática o pouco que ainda me recordava sobre constelações e afins. «Havia uma que se chamava Cães de Caça... Lá está! As saudades que eu tinha daquela linha recta a ligar duas estrelas... e ali é Leão Menor, se não me engano - Exacto. Já é uma linha semi-recta com três estrelas. Vê-se pelo tamanho que aquilo nunca podia ser um cão de caça. A-ha! E aquela é a Fénix. Praticamente igual à Ursa Menor. Fenomenal. Onde um pessoa viu uma ursa, outra viu uma fénix. «Que grande anúncio de Grant's que daqui saía.»
Segui estes exemplos de dez como eles. E esses de dez iguais. Barrigava-me de riso intelectual completamente despropositado, quando um grilo me chamou a atenção para as horas. Havia ali insectos a tentar produzir sons de disponibilidade sexual. Pedi desculpa, levantei-me e fui-me embora. E a audível perversão continuou. BF