quinta-feira, dezembro 28, 2006

Epifania



"We had a falling-out, like lovers often will
And to think of how she left that night, it still brings me a chill
And though our separation, it pierced me to the heart
She still lives inside of me, we've never been apart."

Ela só precisava de mais alguém para lhe satisfazer a curiosidade e a insegurança. Ele, num rasgo cego de ecologia, deitou as cartas e as fotografias na reciclagem. JB

segunda-feira, dezembro 25, 2006

Last Christmas


Karolina Kurkova

No Natal passado dei-te o meu coração, mas logo no dia seguinte deitaste-o fora. Este ano, para me poupar às lágrimas, vou dá-lo a alguém especial. JB

sexta-feira, dezembro 22, 2006

Armenian Rhapsody*

Desliguei o carro. Ali, naquele parque de estacionamento à beira do rio, estava sozinho com o vento e com a voz do Marvin Gaye que vinha do carro ao lado. Olhei pela janela. Não estava uma noite particularmente fria, pelo que não cheguei a perceber porque carga de água os vidros daquele Nissan Micra vermelho embaciavam. Senti uma ligeira corrente de ar e lembrei-me do aviso da minha mãe – que não fosse assim para a rua, que levasse agasalho, que aquele vento dava cabo da garganta. Vesti a camisola, dei à manivela para fechar a janela e liguei o rádio. “Lets’s get it on... Whoa! Let’s get it on!” Ao que parecia, também no carro ao lado estavam a ouvir a marginal. Tirei o CD do porta-luvas.
Welcome to the soldier side, where there’s no one here but me. People all grow up to die... There is no one here but me”.

Já não me recordava há quanto tempo tinha passado para o lado deles. Há muito, com certeza – o tempo suficiente para não me recordar. Lembrava-me, isso sim, da primeira vez que me tinham perguntado o porquê de gostar tanto de System of a Down, se não apreciava por aí além bandas aparentemente semelhantes.
- Meu, System, brutalíssimo, naquela, grandes mamados, curtes Slipknot? E Maiden?
- Bom, digamos que System está para o pesto assim como Iron Maiden está para a vinha de alho. São ambos pastosos e vêm em frascos parecidos. Mas é só.

Everybody’s going to the party have a real good time”. Parei de tocar bateria no volante e no tablier quando me lembrei de que eu era o único gato pingado que não tinha ido à festa porque já tinha “coisas combinadas” e estava com “um torcicolo daqueles”. A verdade é que o meu pescoço nunca tinha estado em tão boa forma e a “coisa combinada” era precisamente aquilo, ouvir a minha banda preferida com o Tobias, o meu peluche, no lugar do morto. Mudei de música. “My cock is much bigger than yours!” Não percebi porque raio alguém escreveria uma música sobre galos, mas ali estavam eles a garantir-me que o deles era muito maior do que o meu. Em todas as músicas, aqueles quatro rapazes arménios pareciam querer dar-me algum recado, uma qualquer mensagem subliminar escondida naqueles deliciosos versos. Acabei por me conformar com a ideia de que o que eles queriam mesmo dizer é que o Danny e a Lisa os levavam para os sítios mais estranhos, onde gonorreia e gorgonzola eram uma e a mesma coisa, onde uma mesa para dois os esperava com amoras doces, onde o teu afilhado pudesse comer toda a relva que desejasse mas não chegasse a comer o peixe, onde os rapazes fizessem questão de usar um vestidinho de vez em quando e onde, enfim, todos aprenderíamos a derrota com pêgas de maus pés – e que nada disto era uma metáfora ao amor ou ao sexo.

A verdade é que não era fácil definir os System of a Down. Banda de metal? Segundo os próprios, essa era apenas mais uma das cores que utilizavam nessa arte plástica que, a par do futebol, é a música. Era simplesmente demasiado redutor pensar em System nesses termos. O vocalista Serj Tankian forrara as paredes da sua sala-de-estar com uma impressionante colecção de CD’s. De jazz. Daron Malakian, o guitarrista, enquanto se confessava sincero admirador dos talentos de Britney Spears, percebia que tinha formado a primeira banda que conseguia ser “agressive and poppy” ao mesmo tempo, mas não ao jeito de James Blunt, que também é agressivo de se ouvir. Enfim, a minha vontade de dançar disco todo nú na Kapital de cada vez que ouvia a extremamente dançável “Bring Your Own Bombs” e aquele gritinho étnico de Serj, importado das extintas tribos nómadas da Ásia Menor e respectivos rituais de iniciação à prática do arco e flecha a cavalo, denunciavam uma banda que, nas eloquentes palavras do baterista John Dolmayan, “doesn’t sound like anyone else. I just consider us System of a Down”. É nesta rapsódia de sons e cores e sabores e papaias que se percebe uma banda que, segundo Daron, foi formada “just to show people, «look, not everything has been done before»”. Afinal de contas, não era preciso adorar satan, matar os pais e/ou desenhar uma lágrima ao canto do olho para se gostar de System of a Down.

Agora, no carro, tentava arranjar uma ligação qualquer entre System, Slipknot, natas para bater e molho béchamel, mas distraí-me com o carro do lado. Aparentemente, quem quer que estivesse dentro daquele Micra era fã dos arménios. Pelo menos a suspensão balançava ao ritmo do baixo de Shavo Odadjian. Sempre me disseram que temos de ser uns para os outros, pelo que decidi pôr o volume no máximo. “It’s a violent pornography, choking chicks and sodomy...
- Colega, importa-se de pôr isso mais baixo?
O vasto símio surpreendeu-me de cuecas e meias à janela, arfando. Confesso que fiquei contente por ter encontrado um colega e por partilhar aquele horário de expediente com alguém.
- Peço imensa desculpa.

Desliguei o rádio e observei o meu colega a dirigir-se em esforço para dentro do seu bólide, a voltar para os braços da amiga que espreitava pela porta entreaberta. Coitados, se calhar estão em viagem e querem dormir. Liguei o rádio outra vez e pus o volume assim mais baixinho, numa música assim mais calminha. “Such a lonely day... And it’s mine, the most loneliest day of my life.” O pleonasmo não me pareceu redundante. Fechei os olhos, encostei o banco para trás e continuei a ouvir. “Such a lonely day... Should be banned. It’s a day that I can’t stand.” Reparei no sentido de humor que há muito apregoava àqueles rapazes e percebi porque razão diziam que as suas músicas mais tristes eram, invariavelmente, as mais engraçadas. “And if you go, I wanna go with you. And if you die, I wanna die with you.

Acordei com o sorriso babado com que adormecera. O relógio marcava já uma hora que podia muito bem pertencer a outro fuso horário, o Nissan Micra vermelho já lá não estava e a música era já outra. “I’m just sitting in my car and waiting for my girl.” Ainda pensei em ir ter com o resto da malta, beber umas cervejas, mas continuei ali sentado, no carro que não tenho, à espera da minha miúda.



* (Texto publicado na revista "Iuris Grafia", ed. Outubro, Novembro, Dezembro '06) JB

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Prof. Dr. Bernardino Fernandes

"A gestão de negócios alheios (art.º 464.º do Código Civil) não pode ser entendida como gestão de um negócio jurídico em sentido estrito, mas antes enquanto sinónimo de gestão de um assunto ou interesse alheios. A gestão de negócios deve ser, então, interpretada no sentido brasileiro do termo: gêstão dji nêgócio." (BF dixit)

Isto é Doutrina. JB

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Gira aí o pompom de lã extremamente quentinho, sóce

Duvido muito que estes pequenos produtos de macramé de usar na cabeça constituam uma mais-valia em termos intimidatórios. Estarão então os mitras portugueses a amolecer? BF

Quando a realidade ultrapassa a ficcção

"Europa quer construir o maior telescópio do mundo"

E para o sublinhar vão-lhe chamar Telescópio Europeu Muita Grande (TEMG). BF

Bute gerir

"Governo cria empresa para gerir função pública"

E uma empresazinha para gerir esta empresa de gestão, hum? BF

sexta-feira, dezembro 08, 2006

A propósito do crescimento imparável da Índia

Alheio não será certamente o facto da aliança que está no poder se chamar UPA. BF

Super size me

Foi a gota d'água

terça-feira, dezembro 05, 2006

No way!

"Vento derruba dezenas de árvores no Alentejo"

Não pode ser! Mamã, diz-me que isto não é verdade! (choro compulsivo) BF

domingo, dezembro 03, 2006

Este Blogger saiu-me uma grande Beta

Cheio de corzinhas e upgrades bonitinhos ao princípio, já me está a causar problemas ao fim de dois dias. Acho que a nossa hiperligação morreu. BF

Amigo da onça

"Putin queixa-se a Blair por não ter silenciado Litvinenko"

Não é que o Vladimir normalmente precise de ajuda, mas desta vez bem que o podias ter ajudado, Tony. BF

sábado, dezembro 02, 2006

Hã?

"Enquanto nascerem pessoas, há espaço para novos deuses"

Esta frase é do caraças para começar um texto. Não esta exactamente anterior. Quer dizer, também é, mas estava a referir-me ao aforismo filosófico. Assim uma coisa mais para o profunda, analítica da natureza humana. Tinha-a pespegada num pedaço de papel, se bem que pespegada talvez não seja a palavra certa. Uma coisa pespegada salta à vista. Esta estava assim como que mais para um canto da secretária ao lado do número de telefone da bilheteira do teatro Camões. São pedaços de papel muito intelectuais, estes que povoam a minha secretária. Se calhar até existe uma ligação entre eles, pelo menos entre estes dois. Vale a pena reservar um momento pré-sono para pensar nisso, se bem que quando chega a altura de pensar nessas coisas adormeço.

De qualquer das maneiras, e embora não faça a mínima ideia em que livro de sabedoria milenar ou site brasileiro vi a frase, a verdade é que a pespeguei stricto senso neste pedaço de papel. Do género "Para desenvolver". Mas entretanto esqueci-me do que com ela queria dizer e no pedaço de papel ficou durante meses.

Mas, criando uma metáfora bem bonita, este tipo de frases profundas são como os arbustos que, cortando de um lado, encontram espaço para crescer do outro, o que é como quem diz, dá sempre para desenvolver uma frase destas, senão no sentido originalmente pensado, então noutro a descobrir. Adoro metáforas bonitinhas e que metam árvores. Tudo o que mete natureza é bem bonito.

Agora estive indeciso entre escrever natureza com letra maiúscula ou minúscula e acabei por escrever com minúscula. Será que isto diz muito de mim, tal como as pessoas com quem ando e a comida que como? Não sei, mas sou gajo para reservar mais um momento dos que antecedem o sono com esta questão.

E agora um momento J.. Olhaste-me e as paredes giraram na eternidade das tuas amígdalas a cantarem em coro as tuas veias de silêncio, mãe és tu, e o sol nocturno das nossas adolescências vomitou uma tempestade de cardumes e de cáfilas de seres pequeninos que, ainda me lembro do Verão da aldeia mamã, deste-me a mão choques metálicos no bombear dos glaucomas que me dirigias por entre as árvores da tua esquizofrenia. Lembras-te? BF

Low cost studies

"Estudo: Passageiro de «low cost» tem formação superior"

E é gajo para também ter dois dedos de testa, uma guita extra na carteira e gostar de adrenalina. BF