domingo, março 20, 2005

Those sweet words

Escrever a ouvir música. Deixá-la entrar em nós: Da aparelhagem aos ouvidos, dos ouvidos para o corpo e daí para a ponta dos dedos. Confesso que às vezes (quase sempre) tenho medo de ser o que se chama na gíria "um gajo estúpido" - que é como quem diz, incompreendido. É que o que escrevo é o que ouço. De momento estou a ouvir Norah Jones, pelo que o que escrevo é uma mulher morena texana de voz quente e felina e com queda para a música.

Norah, escuta. Um dia vou casar-me contigo.
Compro um bilhete para o teu concerto, acampo com umas semanas de antecedência junto ao recinto, ao abrir dos portões dou uso às minhas pernas (ambas) e mostro por que razão me costumam chamar "O Torpedo das Avenidas Novas", encosto-me às grades junto ao palco e espero por ti. Quando entrares em palco, depois de soltar um "Norah, faz-me um filho!", salto as grades que espero não serem muito altas, livro-me dos seguranças (não me perguntes como), pego-te ao colo enquanto estiveres a dar um acorde de Lá menor, esbofeteio o contrabaixista que ouvi dizer que te andava a galar, chamo o meu cavalo negro com um assobio, ajudo-te a subir nele e cavalgamos com os olhos no horizonte, seguindo o pôr do sol.
Em poucas horas estaremos no Texas, onde podemos viver juntos, numa casa de madeira escura e gasta, com um baloiço no alpendre como os que se vêm nos filmes. Aí toco guitarra (talvez banjo) o dia todo, enquanto te vejo ao longe, descalça e sorridente, na perfeição do teu corpo, escondido debaixo da minha camisa preferida que roubaste da gaveta sem eu saber, porque fazes questão de que cheire mais a ti do que a mim. À noite enroscas-te em mim para te aqueceres e adormeces-me com a tua voz.


Those Sweet Words
Norah Jones


"What did you say?
I know what you are singing
But my ears won't stop ringing
Long enough to hear those sweet words
And your simple melody.
"


Norah Jones

Oxalá saibas português, ou o meu latim foi em vão.
Vou ali respirar e já venho. JB