terça-feira, junho 28, 2005

Náufragas (dia 4, de manhã)


- Karolina! Karolina!
Acordei de repente. Olhei com dificuldade para o sol. A manhã ia já longa, tinha-me deixado dormir. A Inguna e a Valentina vinham a correr pela praia, excitadas com qualquer coisa. As outras seguiam-nas. A Natalia, que tinha adormecido em cima de mim, acordou sobressaltada, com as bochechas coradas e o cabelo desgrenhado.
- O que foi, Karolina? - disse com voz rouca, enquanto ajeitava o biquini que lhe saía do sítio e sacudia a areia da barriga.
- Não sei...
Mais de perto, percebi que vinham a rir e que cada uma trazia qualquer coisa debaixo dos braços. Garrafas?... Encontraram alguém! A Marija e a Natasha, mais atrás, ajudavam-se uma à outra a carregar uma arca de madeira. Mas é a arca do...
- Karolina! Encontrámos as coisas do barco! Encontrámos as coisas! Deram à costa!
Levantei-me e ajudei a ensonada Natalia a levantar-se. Não tinham encontrado ninguém mas também não traziam más notícias. Pelo que me lembrava que guardávamos dentro da arca, não íamos ter problemas em arranjar que comer. Pelo menos durante uma semana...
- Marija, o que é que encontraram dentro da arca?
- Bem... - pousou a arca na areia num movimento pesado e largou a pega. Começou a vasculhar - Temos bolachas de água e sal, pacotes de batatas fritas, caviar, paté, muitas maçãs, pêras... - ajoelhou-se na areia e debruçou-se sobre a arca para procurar melhor - Mais bolachas, ketchup, muitas garrafas de água, os vossos maços de tabaco, outras batatas... - agarrou uma coisa no fundo da arca e olhou para trás, a sorrir - As latinhas de leite condensado da Natalia...
- Dá cá! - arrancou uma lata da mão da Maria e olhou para ela, envergonhada - Eu gosto, qual é o problema?
Estava a fazer beicinho outra vez. Boca de pato...
- E mais?
- Mais nada.
Olhei para a Inguna e a Valentina. Estavam com as mãos atrás das costas, a esconder qualquer coisa, a morder o lábio e a sorrir.
- Mais nada?
Mostraram o que escondiam.
- Vodka!!
- Boa! Dá cá uma garrafa. - disse uma de nós, atrás de mim.
Voltei-me. Era a Carmen, já sem febre e acordada, mas ainda fraca e apoiada na Euguenia. Pegou numa garrafa, abriu-a e bebeu dois goles.
- Carmen, não devias...
- Karolina, já estou boa. - piscou-me o olho e levantou a garrafa em jeito de brinde - Merecemos, afinal de contas.
Deixei-a estar, não disse mais nada e pisquei-lhe o olho também. Merecemos, afinal de contas. A Natalia tentava ainda abrir a lata de leite condensado com uma concha.
- E as roupas? - perguntei - Encontraram alguma mala?
- Não, só encontrámos a arca. Vamos ter de continuar a usar os nossos biquinis.

JB