domingo, junho 26, 2005

Náufragas (dia 1)


Acordei com o som das ondas a rebentar na areia. O sol aparecia já atrás das nuvens, envergonhado, entre o céu e o mar. Naufragámos.
Deitada na areia, sentia o mar a empurrar-me o corpo para a frente, lentamente. Tentei levantar-me, com esforço, mas caí logo a seguir. Não sentia as pernas. Estava fraca e enjoada, com vontade de vomitar. Devo ter engolido imensa água salgada. Tossi compulsivamente e acabei por vomitar alguma da água que tinha engolido. Olhei à minha volta. O mar azul a perder de vista, o areal branco deserto e o mato verde e denso à minha frente.
Tinha de encontrar as outras. Nova tentativa de me levantar, nova tentativa falhada. Merda... Deitei-me de costas, conformada. No céu, as nuvens ameaçavam uma tempestade. Elas têm de estar aqui também, não posso ser a única! Ao longe, um trovão acordara os sons da floresta. Merda! Tenho de ir à procura de alguém. Tentava levantar-me outra vez. Oxalá...
- Karolina?!
Olhei.
- Natalia!
- Karolina!!
Vi-a correr na minha direcção, atabalhoada, tropeçando a cada passo. Tonta, Natalia...
- Karolina! Rápido, anda! A Carmen está desmaiada, não sabemos o que fazer!
- A Carmen?!
- Precisamos de ti!
- Natalia, onde estão todas?
- Karolina...
Deixou-se cair em cima de mim e abraçou-me, com os olhos molhados e o cabelo salgado. Encheu-me de beijos com os seus lábios de boneca, a sua "boca de pato", como eu gostava de chamar quando a queria chatear. Tirei-lhe o cabelo da cara e limpei-lhe as lágrimas.
- Natalia, as outras?
- Anda, Karolina, a Carmen precisa de ti. Estamos todas lá ao fundo, as oito.
- Vamos, ajuda-me a levantar-me.
Apoiei-me nela, levantei-me e olhei em frente. Via-as dali, ao longe.
- Achas que vamos conseguir, Karolina?
- O quê, Natalia?
- Não sei... - olhou para baixo e recomeçou a chorar.
- Natalia, ouve-me. - levantei-lhe o queixo saliente e olhei-a nos olhos - Nós cá nos safamos, miúda! Nós cá nos safamos...
- Está bem...
Continuámos a andar. Nove modelos naufragadas numa ilha deserta. Nós cá nos safamos... Quanto mais repetia as palavras, menos acreditava nelas. Nós cá nos safamos...

JB