quarta-feira, junho 22, 2005

Manifesto "Acorda Portugal!"

Este é um manifesto de reacção contra a ignorância e um manifesto de acção por Portugal.

Considerando as novas ondas de insurgimento generalizado contra a comunidade negra em Portugal, o fácil divulgar de uma mensagem racista simples e o criar de uma atmosfera pesadamente xenofóbica na sociedade portuguesa, decidi expressar o que penso e sinto, da melhor maneira que consigo, pondo na balança Razão e Coração. Pesam o mesmo.
Não se encare este manifesto como uma maneira branda de abordar a criminalidade e a delinquência. Não tenho qualquer interesse em fazê-lo, não fosse eu próprio vítima (como muitos) dessas criminalidade e delinquência.
Enquanto português e enquanto Homem, sinto-me obrigado a escrever o que se segue:

Assistimos a um reverter de argumentos vergonhoso.
O processo é simples: Escreve-se, em primeiro lugar, textos de teor descaradamente xenofóbico (de repulsa por uma raça diferente) e altamente racista (cultivando a inferioridade intelectual da raça negra, cigana ou outras – enfim, a superioridade da raça branca, o que quer que seja a raça branca). Depois, é só esperar pelos nossos protestos revoltados com a podridão a que a mente humana pode chegar e, em actos de puro cinismo, fazer o papel de indignação por não sabermos interpretar devidamente os seus textos, por os acusarmos injustificadamente de xenófobos e racistas. Aí, atacam ferozmente, sustentando que se se falasse de delinquência na raça branca tudo estaria bem, todos concordariam, nenhum “púdico” levantaria a voz e se insurgiria. Reverte-se argumentos, já o disse.

Acontece que o que se assiste não é ao simples relatar de situações de delinquência causadas por pessoas de raça negra (como o revoltante arrastão de Carcavelos e os sucessivos arrastões nos comboios) e à sua contestação legítima. Não. Assiste-se, antes, à tentativa de provar que a delinquência tem origem na própria raça, que os pretos têm natural e geneticamente mais tendência para roubar do que os brancos, que os pretos fazem o que fazem porque são pretos.
Sem nunca excluírem o facto de também na raça branca haver delinquência (porque estes senhores não são nenhuns parvos - a sua inteligência é esperteza saloia - e o seu objectivo é arrastar multidões embevecidas pelo que parece facilmente óbvio), apresentam estatísticas aliciantes, trabalho de casa feito, nas quais provam que o crescimento da delinquência se deu proporcionalmente ao crescimento da imigração e que a quase totalidade dos assaltos, roubos e distúrbios é provocada por pessoas de raça negra. E ficam contentes, inchados de si, convictos de que as estatísticas provam o que dizem, porque ninguém (de facto) pode contrariar dados objectivos.

Meus senhores, há que ser intelectualmente honesto, há que ser mais sério. A imigração não é a causa eficiente da delinquência. Pelo meio, há todo um processo, toda uma conjuntura sociológica que deixa fracas alternativas aos imigrantes que chegam a Portugal, mas de que os senhores se parecem esquecer - ou, pior, preferem não ver. Essa, sim, é a consequência directa da imigração e a causa eficiente da delinquência.
Sei que é mais difícil de aceitar, sei que é menos óbvio para os senhores, mas é este o problema que Portugal enfrenta, não o facto de vivermos com pretos entre nós.

Numa época em que a Humanidade ainda se tenta perdoar pelos crimes cometidos contra si própria e no ano em que se comemoram 50 anos do fim da 2ª guerra mundial, é triste ver pessoas que de humano têm pouco, sentir o ódio quase idealista dentro de si. Que pretendem estes senhores? Será este um regresso à apologia da pureza rácica? A comprovar pelo que se diz, escreve e grita nos rossios de Portugal, não andamos muito longe disso. Estão convencidos do que acreditam e continuarão a estar, porque o orgulho não lhes permite fazer outra coisa, o orgulho cega-os também.
Alimentam a ideia da podridão de uma raça, quando afinal o fruto podre, de tão infelizmente maduro que está, são eles.

Ouvi dizer, pela boca dos próprios, que “(...) os nacionalistas, apesar da sua enorme revolta perante o Sistema da destruição nacional, deram uma cabal demonstração de civismo e activismo político”. É do que este país precisa: extremistas de boas maneiras e interessados na política.
"Acorda Portugal!", dizem eles, donos da Verdade. O melhor que se pode fazer, dizem-me, é ignorar. Dessa forma não lhes damos mais do que a importância que têm – nenhuma. Vá, o PNR (agora Frente Nacional?) ainda consegue uns centésimos de percentagem nas legislativas, contando já com os indecisos que votam em si por piada ou por aposta com os amigos.
Numa altura destas, melhor do que ignorar, parece-me, é reagir. Faço-o aqui.

“Portugal aos portugueses”. Quem utiliza entusiasticamente este brocardo (com razão, vá, porque até fica no ouvido) e, simultaneamente, advoga a ideia de um Portugal que é Portugal desde que se conhece, um Portugal de identidade imutável ao longo de 800 anos de História, um Portugal de portugueses, esquece-se com certeza que Portugal é das nações mais multi-culturais do mundo e que eles próprios são descendentes de romanos, visigodos e muçulmanos. Pergunto-me, ainda, que percentagem deles não terá os seus progenitores emigrados.

Vejo Portugal cair abruptamente, mais do que numa recessão económica, numa “recessão moral”. A maioria dos portugueses não está habituada a pensar, pelo que cai com espantosa inércia na ignorância imbecil da xenofobia e no facilitismo estúpido do racismo. Do canalizar o ódio nos outros ao acreditar pia e cegamente que a raça é causa eficiente da delinquência é um simples passo. E é um passo que vai sendo dado, facilmente, mais rápido do que imaginamos.

Finalizando, sei que, ora corrigindo ideias, ora reforçando-as, tenho a solidariedade e apoio dos meus colegas no Pontos Negros, dos meus amigos, da minha família – e (não menos importante) de muita, mas muita boa gente.
Com este manifesto (que espero que se venha a tornar mais do que um simples manifesto), pretendo defender uma causa que não é nova. Muito pelo contrário, é uma causa antiga, e talvez por isso mesmo precise de ser rejuvenescida. Para isso, preciso de ajuda de todos. Portugal precisa de mudar. Precisa de todos e de cada um para mudar.
Esta é, acredito, uma causa nobre.

"Acorda Portugal"? Concordo. Já é tempo de acordar. Nunca é tarde para perceber que, mais do que branco, mais do que preto - és Homem.

João Berhan

1 Comments:

Blogger PIP said...

Do melhor que tenho lido sobre a dita questão. Mais vale tarde do que nunca, e em boa hora li este post, mesmo que três anos depois.

Parabéns pela eloquência, transparência e, acima de tudo, pela manifestação de reacção.

Peace

Skills

12 maio, 2008 00:44

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