quarta-feira, junho 22, 2005

Introdução a um manifesto - a reacção

Contestação directa dos textos cinicamente racistas:

"Qualquer dia sais da puberdade.

Xenofobia é preconceito.
Preconceito é ignorância.
A Ignorância cega.
És cego, és ignorante.

É a primeira vez que insulto uma pessoa que não conheço. Soube bem, foi merecido.
Terei todo o gosto em ajudar-vos a sair da "caverna" onde se encontram. Prometo dar o meu melhor.

João Berhan"

"CAROS SENHORES:

É interessante reparar como alguém se apega a uma notícia de um jornal (exemplar!) como A Capital para fundamentar demagogicamente uma causa ignorante.
Não nego que tenha sido um "arrastão" - é o mais plausível, o óbvio, concordo, e é estupidez falar de assaltos pontuais (estiveste bem). Isso seria, de facto, tapar os olhos com medo da verdade.
But then again, amiguinho, perdes o fio à meada: Delinquência não é um fenómeno racial, mas um fenómeno sociológico. Delinquência não é consequência da raça. Raça não é causa de delinquência.
Desculpa-me as repetições pouco imaginativas, mas são propositadas - por pouco não esboço um desenho para vos explicar melhor; é que estou abismado com a profunda ignorância que revelam e com a demagogia reles e rasteira que usam para arrastar multidões.

Mais uma vez, acredito que alguns de vós, um dia, quem sabe?, sairão da puberdade. Acordarão, arrepender-se-ão do que acreditaram e sorrirão com frieza e desdém para o passado - sem nunca o querer apagar da memória, porque sabem que podem aprender dele. Outros, orgulhosos, sei que morrerão firmes numa causa desumana.

Xenofobia é preconceito,
preconceito é ignorância,
a ignorância cega.

Concluindo (porque reparo que me alarguei no comentário), peço-vos que revejam quais os Pigs que Must Die, se é que, em qualquer circunstância, algum Pig Must Die.

João Berhan"

"CAROS SENHORES:

"Se fazes afirmações que não consegues justificar, elas não têm valor nenhum", disseram-me.
Justificação (escusada!) para o que disse (Xenofobia é preconceito e ignorância):

Luís, grande amigo meu, 16 anos. Não nasceu na miséria nem cresceu rodeado de amigos delinquentes. Teve acesso a tudo o que a maioria de nós teve - educação, ambiente familiar e grupo de amigos saudáveis. Estuda, com sucesso, neste momento no agrupamento 4 do liceu.
É PRETO.

João (nome fictício, porque não lhe perguntei o nome), 16 anos. Nasceu num bairro problemático, numa famíla que não lhe pôde dar a vida que merecia (porque é igual a nós). Cresceu rodeado de delinquência e rendeu-se ao facilitismo estúpido de ir roubar - e, um dia, rodeado do seu gang, assaltou-me a mim, ameaçando-me com uma faca.
É PRETO.

Miguel, grande amigo meu, 18 anos. Não nasceu na miséria nem cresceu rodeado de amigos delinquentes. Teve acesso a tudo o que a maioria de nós teve - educação, ambiente familiar e grupo de amigos saudáveis. Estuda neste momento na faculdade de Economia.
É BRANCO.

Pedro (nome fictício, porque não lhe perguntei o nome), 18 anos. Nasceu num bairro problemático, numa famíla que não lhe pôde dar a vida que merecia (porque é igual a nós). Cresceu rodeado de delinquência e rendeu-se ao facilitismo estúpido de ir roubar - e, um dia, rodeado do seu gang, assaltou-me a mim, ameaçando-me com uma faca.
É BRANCO.

Concretizei, justifiquei e exemplifiquei a frase: Delinquência não é efeito da raça. Não passem já ao parágrafo seguinte e pensem nisto durante uns minutos. Não sejam orgulhosos - quando começarem a perceber que "Olha, afinal estou estupidamente errado. Afinal o que este gajo e outros gajos dizem é verdade", não hesitem. Párem com o fundamentalismo e procurem novas formas de resolver este problema grave em Portugal.
Não sei mais que dizer.

Vá! Chacinem-me a mim porque, afinal de contas, tenho a pele bem escura (e mais escurinha ficou, agora que fui à praia), os olhos pretos e o nariz abatatado (de verdade). Devo estar, com certeza, num patamar intermédio. Podia ser um delinquente, mas felizmente não sou preto, sou só um morenaço.
O meu amigo Luís, esse, que é preto, pode dizer-se que teve muita sorte em não ter descambado para a delinquência.
Com certeza há algo genético nele de branco, que não o deixou ir roubar para as ruas. Ou, espera!, talvez tenha sido um factor sociológico - o ter crescido numa famíla (preta) que lhe proporcionou condições para ter uma vida boa.
Mas não é plausível, amigos, não é. É mesmo um factor genético, racial, e não sociológico, que faz alguém ser delinquente ou não.

Confesso que estou cansado. Estou em exames (eu, o Ivan e o Osvaldo - pretos, imigrantes angolano e moçambicano, respectivamente) e temos de nos esforçar para ter boas notas e passar o 1º ano na Faculdade de Direito. Não tenho muito mais tempo a perder, combatendo convicções risíveis.

Agora, se me dão licença, vou rapar o cabelo, tatuar "Morenos Power" no peito e meter a dita rolinha no ânus, que me pediram encarecidamente que metesse, vá-se lá saber porquê.

João Berhan"


JB