quarta-feira, novembro 02, 2005

Vergonha alheia

Não chamei a minha irmã para vir ver comigo a entrevista ao Mário Soares na TVI. Sei que ela não suporta ver pessoas a fazer figuras tristes. Nem consegue ver O Cofre sozinha.
Não tivera já o Mário Soares observado que estava "bem da próstata e tudo!" enquanto apontava, risonho, para o seu próprio escroto, juro que acreditava que tudo o resto não passava de acidentes de percurso num dia menos feliz na vida de um senhor quase centenário.
Eu, mais do que embaraçado com a vergonha alheia, fico triste. Falo muito a sério. Custa-me verdadeiramente olhar para alguém daquela idade naquele estado, senil e desamparado. Se o Mário Soares fosse meu avô, dir-lhe-ia docemente ao ouvido, segurando-lhe o braço: "Avô Mário, sente-se aqui no meu lugar. Trouxe-lhe os seus jornais e aqueles chocolates pretos de que tanto gosta. Não coma todos, guarde uns para mim, avô. E ligue o candeeiro à sua direita, para não cansar os olhos. O jantar está quase na mesa."
E a sua família, que lhe diz? E os seus verdadeiros amigos, que lhe dizem? Será que os tem? Ou será que sempre se deu com pessoas mais velhas? Enfim, não haverá ninguém que, por vergonha ou compaixão, páre este homem? JB