domingo, julho 31, 2005

Náufragas (dia 6)


- Karolina!! Miúdas!!
Abri os olhos devagar, um de cada vez, semiergui-me sentada e tentei olhar em frente. Tão cedo... Sacudi a areia do corpo e vesti a parte de cima do biquini. O sol tocava ainda no mar, acabado de nascer. Natalia? Vi-a ao fundo da praia, no mar, a água pela cintura. Olhava para longe, de pescoço erguido. Pela expressão do seu corpo, imóvel de repente, notei que observava alguma coisa no mar. Tentei olhar também mas dali, sentada atrás da palmeira, não via nada. E de repente, a Natalia começou a nadar.
- Natalia!
Segui-a com o olhar e esperei. Decidi levantar-me quando deixei de a ver. Olhei. Um barco...
- Natalia!! Natalia!!
As raparigas despertavam resmungonas com os meus gritos.
- Miúdas! Acordem!!
Corria pela areia, tropeçando a cada passada. A Carmen, já de pé, acordava as outras, abanado-as e atirando-lhes areia.
- Vá!! Vamos embora daqui, pá! Há um barco na ilha!!
- Há um quê?
- Merda, olha!! - disse, segurando o queixo da Inguna - Um barco!
Agarrou nas últimas garrafas de vodka e correu atrás de mim. As outras levantavam-se uma a uma, e uma a uma vinham a correr. Umas eufóricas, umas a chorar, todas a gritar. Entrei na água.
- Karolina, espera!
Atrás de mim, a Carmen perguntava-me com os olhos o que fazer com as garrafas. Carmen... Olhou para elas, desanimada, pousou-as na areia e entrou na água.
Entrámos no barco, puxadas pela Natalia, e ajudámos as outras a subir. Uma por uma, embarcámos as nove. A Natalia puxou-me por um braço.
- Karolina, apresento-te à tripulação.
Virei-me, encharcada.
- A Gisele Bündchen, a Adriana Lima, a Heidi Klum, a Tyra Banks e a Julia Stegner.
Sorrimos, tímidas, e acenámos. Atrás de mim, a Inguna lembrara-se:
- E eles?!
Calámo-nos e olhámos umas para as outras, boquiabertas. A felicidade de ter visto o barco não nos tinha deixado pensar que não estávamos sozinhas na ilha. Lembrava-me do Jean-Piere quando a Gisele interrompeu.
- Eles quem?
Nenhuma de nós respondeu. Olhámos uma última vez para a ilha - o longo areal branco, encolhido entre o azul do mar e o verde da floresta. Por momentos, pareceu-nos ver alguém, nas sombras das árvores, espreitando. Olhámo-nos de novo e sorrimos.
- Ninguém.

***

A ilha, escondida no nevoeiro, era já do tamanho da palma da minha mão. A Natalia, ao meu lado, debruçava-se na popa, de olhos fechados, o queixo apoiado na mão, sentindo o vento no cabelo e na roupa.
- Boca de pato...
Sem abrir os olhos, encolheu os ombros, deitou-me a língua de fora, inspirou fundo e sorriu.
- Karolina, Natalia! A Gisele e a Adriana estão a fazer caipirinhas para todas!

JB