segunda-feira, julho 25, 2005

Náufragas (dia 5)


Foram-se embora com o nascer do sol. Eu arrastava-me ainda pelo areal, à procura de uma sombra debaixo de uma árvore para dormir. Não dormi nada... Sorri comigo quando pensei porquê.
Passava por elas e via-as enroscadas umas nas outras, à sombra das palmeiras e das rochas. Já adormeceram. Vi a Carmen, estendida na areia ao pé de uma palmeira, sozinha, a dormir de boca aberta, coberta com a camisa do Benny. Cheguei-me a ela e deitei-me, aninhada. Fechei os olhos e suspirei. Sentia-me adormecer quando uns lábios molhados me beijaram o pescoço. Natalia... Espreguicei-me com um sorriso e olhei para ela. Ajoelhada na areia, a pingar dos pés à cabeça, ajeitando-me o cabelo atrás da orelha, olhava-me com olhos doces. Boca de pato...
- Ainda a dormir?
- Não dormi ainda. O Jean-Pierre...
- Escusas de explicar.
Ficámos caladas. Ela mordia o lábio, como fazia quando queria perguntar alguma coisa.
- Que foi, Natalia?
- Aconteceu alguma coisa?
- Como assim?
- Entre vocês...
- Ah! Não, nem por isso.
Silêncio outra vez. Outra mordidela no lábio.
- Diz...
- Vi-vos beijarem-se.
- Sim, mas não aconteceu mais nada.
- Mais nada em que sentido?
- Natalia...
Fomos interrompidas pela Carmen, que acordava num bocejo.
- A Karolina pensava que lhe perguntavas se tinham ido para a cama.
Olhei para a Carmen. Ir para a cama, na ilha... Desatámo-nos a rir.
- Que foi?
A Natalia franzia o sobrolho e fazia beicinho. A Carmen estendeu o braço à volta do seu pescoço e deu-lhe um beijinho na bochecha.
- Vá, miúda! Conta tu como foi a tua noite.
- Lembro-me de pouco. Sei que estou com dores de barriga dos morangos. - disse, com voz de birra, pondo a mão na barriga molhada.
- E tu e o outro?
- O Rudi?
- Não era Rud? - perguntei.
- Não gozes. Ele é mesmo querido. Adormeceu-me com festinhas no cabelo.
A Carmen riu-se beijou-a na testa.
- Ainda bem, miúda. Mas eu e o Benny demos mais do que beijinhos. Fizemos mais do que festinhas um ao outro.
A Natalia corava e mordia outra vez o lábio.
- Fizeram amor?
- Sexo.
A Natalia olhava para mim, engasgada. A Carmen percebeu que a Natalia não se sentia à vontade e tentou remediar, animada.
- Mas o melhor foram os beijos. Ele beija mesmo bem. - disse, a piscar-me o olho.
- A sério? Como?
- Tipo assim...
Beijou-a. Demoraram-se num beijo longo e arfante, enquanto se começavam a ajeitar uma na outra.
- Meninas, à minha frente?
- Que foi, Karolina? - perguntou-me a Carmen pelo canto da boca.
Debruçou-se num gesto rápido e deu-me um beijo curto e ruidoso. Afastei-a, com a mão, sorrindo. A Natalia, pela cara que fazia, estava mais ciumenta que envergonhada.
- Boca de pato...
Não me deixou falar mais, puxou-me pelo biquini e respondeu-me num beijo salgado e raivoso. Senti-a afastar-se, por fim. Não, agora estás tramada! Puxei-a eu e trinquei-lhe o lábio. Assim ficámos, a rir, eu sentindo-lhe o corpo molhado e frio, até sermos interrompidas pela Carmen.
- Por muito divertido que isso seja, parem por uns segundos. - apontou para a praia - Elas estão a chamar-nos.
Olhámos. As outras acordavam com os risos da Natasha e da Marija, que furavam as ondas e atiravam água uma à outra. Já cansadas, afastaram-se, ofegantes. A Natasha despia o biquini.
- Agarra, Valentina! - gritou.
A Valentina agarrou a parte de cima, trapalhona, e apanhou do chão a parte de baixo do biquini. Estendeu-o na areia e tirou também o seu. Doidas... As outras riam-se. Decidiram fazer o mesmo. Despiram-se e correram para o mar. Olhámo-nos, as três. Levantámo-nos, despimos os biquinis e descemos a praia até ao mar.
- Esperem por mim!
A Natalia atrapalhava-se com o nó do biquini.
- Boca de pato!

JB