Coisas que melhoram algumas vidas
Viajar no 38 em hora de ponta, 38ºC lá fora e nenhuma agulha a bulir, o condutor nervoso do cansaço, soltando impropérios e insultando progenitoras alheias pela janela e buzinando, buzinando, buzinando aos carros que passam e a tudo o que se mova. Eu ensanduichado entre a comadre e seus sacos cheios de tupperwares e o compadre de cheiro a homem, o meu nariz nas suas axilas, sentindo caneladas e pisadelas (algumas propositadas, porque levo a guitarra às costas). "Vai sair?" - não, não ia sair - "Então com licença!" e uma carga de ombro. "Abra aqui atrás, faz favor!", "Até amanhã, se Deus quiser!" e "A culpa é do Santana!".
Mas finalmente, por meros segundos apenas, como que num castigo que não mereço ou numa obra perversa dos deuses, passar frente ao portão de saída do liceu Pedro Nunes, onde a vida é mais fácil e tudo é mais simples e fresco do que é dentro do autocarro, e ficar olhando, olhando, olhando pela janela para as peles queimadas, os decotes e os chinelos no pé, até dobrar a esquina, acordar, virar-me para a frente e massajar o pescoço.
"Saio aqui, se não se importa, deixava-me sair pela frente."
"Isso é que eu já não sei, amigo..." JB
Mas finalmente, por meros segundos apenas, como que num castigo que não mereço ou numa obra perversa dos deuses, passar frente ao portão de saída do liceu Pedro Nunes, onde a vida é mais fácil e tudo é mais simples e fresco do que é dentro do autocarro, e ficar olhando, olhando, olhando pela janela para as peles queimadas, os decotes e os chinelos no pé, até dobrar a esquina, acordar, virar-me para a frente e massajar o pescoço.
"Saio aqui, se não se importa, deixava-me sair pela frente."
"Isso é que eu já não sei, amigo..." JB
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