segunda-feira, julho 17, 2006

Twilight Zone

E naquele momento tudo parou.
O barulho dos carros reduzia-se a um mínimo, procurando não desconcentrar os olhares menos disciplinados, quando me apercebi da estranheza daquele fim de tarde quente. O fumo de um cigarro subia abandonado pelo ar e criava o ambiente noir daquela tira a preto e branco onde me movimentava a vermelho. Olhei devagar em volta. Não era o lugar nem o momento para movimentos bruscos. Ninguém parecia se ter dado conta de que ali estava e eu queria manter essa situação o maior tempo possível. Pelo menos até perceber o que se passava ali. Não me pareceu difícil. As verticalidades à minha volta estavam demasiado concentradas naquela parede, como quem olha no céu o cometa que se aproxima em rota de colisão. Apáticas, imóveis, expectantes. Mas este não era um serão científico ao ar livre. Ainda que peculiar, eu ainda considerava aquele espaço um café. Rústico, demasiado rústico, mas um café. Retornei a olhar as pessoas. Respiravam uma falta de vida, que já me começava a afectar. Sentindo-me a desfalecer, olhei para a parede, por fim. O que lá vi prendeu-me. Apercebendo-me de um golpe de estado encefálico, tentei soltar uma perna. A ordem que noutra altura teria sido diligentemente cumprida, era agora ignorada de modo cruel. Perdia a cada momento que passava qualquer domínio que ainda detivesse sob o meu corpo. As imagens que via entravam-me pela retina e reforçavam a acção neurotóxica de que era alvo. Enfraquecia aos poucos e aos poucos desistia, cedendo o controle. Instantes depois, o processo de transformação finalizou-se. A tira a preto e branco homogeneizara-se.
E o último episódio da novela da TVI continuou. BF