sexta-feira, janeiro 06, 2006

Pede um desejo

- Espera, pára!
Esticou o braço e gentilmente pousou-me os dedos na bochecha.
- O quê?
- Tens aqui uma pestana.
Adivinhei o que se seguia. De língua de fora e olhos semi-cerrados, concentrada, agarrou a pestana num beliscão. Apertou-a entre o polegar e o indicador e olhou-me nos olhos.
- Cima ou baixo?
- Calma, tens de...
- Pede um desejo.
Suspirei e sorri.
- Desejo que...
- Não! Não podes dizer, senão não se realiza.
Concentrei-me. Um desejo... Nunca soubera o que desejar. A paz mundial pedia-se a rezar, a retoma da economia pareceu-me desadequada e o Benfica campeão europeu não tinha resultado nem com estrelas cadentes.
- Então?
Acordou-me. Mordia o lábio, divertida. Reparei na pele que se enrrugava no canto dos olhos a cada sorriso. Pareceu-me óbvio.
- Já está.
- Cima ou baixo?
Pelo tempo que tinha demorado a pedir um desejo supus que a pestana estivesse já bem colada ao indicador.
- Cima.
Descolou os dedos, entusiasmada, e procurou a pestana. Bolas...
- Nunca tive sorte nestas coisas. Não se vai realizar.
- Vai, vai.
Deu-me um beijinho na bochecha, onde tinha estado a pestana, e adormeceu. JB