segunda-feira, maio 29, 2006

A Criatividade

Este fim-de-semana tive tempo. Muito tempo. Tempo à fartazana. Normalmente quando isto acontece, dou por mim a virar-me para questões menos terrestres, típicas de uma joie de vivre relaxada que por mim passa de vez em quando. De quem não tem muito mais com que se preocupar. Esta foi mais uma dessas vezes.
Eis que me encontro num descampado muito pouco iluminado, perdido no meio de uma amena noite alentejana. A luz mais próxima a umas razoáveis dezenas de metros. As estrelas aí a coisa de três palmos. Estão todas no lugar, como alguém assim as arrumou um dia. Alguém cheio de imaginação - note-se - ou não fosse a Ursa Menor (ou será maior?) um quadrado com um risco estelar de vontade ascendente própria. Permaneci neste pensamento. «Se há coisas que me fascinam, esta tem seguramente potencial para ser uma delas». Regressei aos estímulos visuais que me chegavam e pus em prática o pouco que ainda me recordava sobre constelações e afins. «Havia uma que se chamava Cães de Caça... Lá está! As saudades que eu tinha daquela linha recta a ligar duas estrelas... e ali é Leão Menor, se não me engano - Exacto. Já é uma linha semi-recta com três estrelas. Vê-se pelo tamanho que aquilo nunca podia ser um cão de caça. A-ha! E aquela é a Fénix. Praticamente igual à Ursa Menor. Fenomenal. Onde um pessoa viu uma ursa, outra viu uma fénix. «Que grande anúncio de Grant's que daqui saía.»
Segui estes exemplos de dez como eles. E esses de dez iguais. Barrigava-me de riso intelectual completamente despropositado, quando um grilo me chamou a atenção para as horas. Havia ali insectos a tentar produzir sons de disponibilidade sexual. Pedi desculpa, levantei-me e fui-me embora. E a audível perversão continuou. BF

Post Estético (II)


Melissa Satta
BF

quinta-feira, maio 25, 2006

Morangos com Açúcar, Pêra Doce*

“Os Morangos não são uma novela, os Morangos são um movimento!”

Ser morango não é pêra doce. Ser morango exige, antes de mais, fé. Vá lá, fé não exige, mas anda lá muito perto. Garanto pelo menos que exige uma valente pachorra – e verdadeiramente admiro quem a tenha – de esperar infinita e descaradamente por um casting de meio minuto.
Orgulho-me, hoje, de ali ter ocupado o meu metro quadrado, de ter dado a ideia de que queria aparecer na televisão. Não relevam os verdadeiros motivos que me levaram a lá estar (trabalho de repórter, suponhamos). Certo, como dois e dois serem quatro, é que estava lá.

Dez da noite em Carnide, junto à Casa do Artista. As portas para o casting abriam às nove da manhã. Um Nélson e um Zé Carlos, ali ao lado, apuravam quem tinha abdominais mais definidos. Era o Zé Carlos, garantia o próprio aos interessados na discussão. Que andava no ginásio há mais de dois anos, que sempre fizera desporto, que obrigava a mãe a cozer esparguete todas as noites. O Nélson, por outro lado, era praticamente mestre de taek-won-do e fartava-se de levar batatadas de indivíduos maiores que ele. Abstraí-me do debate a tempo de evitar o levantar das t-shirts, a pedido da bexigosa namorada do Zé Carlos.

Aproveitei-me do meu robusto e musculado metro e noventa e olhei à minha volta, procurando densidade populacional menos nipónica. Olha, uma nesga! Depois de doze pisadelas, duas caneladas, uma cotovelada e um gritinho, desembaracei-me da multidão e inspirei fundo. Interrompi o processo respiratório, sustive o ar nos pulmões enquanto o tubo de escape do 28 passava por ali e terminei com sucesso a expiração.
Analisei o quadro que se me afigurava. A fila alongava-se a perder de vista, serpenteava pelas árvores aprisionadas no passeio estreito e, dobrando a esquina, dava a volta ao quarteirão. No início da fila, junto aos portões, uma senhora nos seus sessentas era a atracção principal. Achei-lhe um piadão, toda despachada, a pôr-se ali ao fresco só para morder o ambiente. Conversava com quem a quisesse ouvir: “Maldita a hora em que pus aqui os pés! Eu, meu amor? Eu não vou fazer casting nenhum, que não tenho idade. Ah, mas a Matilde ainda vai ficar com o rapaz, que a outra não é boa peça. A minha neta é que está em casa, que tem aulas amanhã de manhã. Guardo-lhe o lugar. O pai dela, coitada da miúda, está nos Açores, e ela ficou a viver comigo ali em Campolide. De maneiras que eu vim para cá por ela para o pai não achar que lhe ando a cortar as pernas.”

Ouvir as deliciosas histórias daquela senhora despertou o meu lado compreensivo. Olhei para os corpos cansados da rapaziada à espera da abertura dos portões e deu-me para a metafísica.
A vida é simples nas novelas. Lá, nas novelas, faz sempre sol. Nas novelas as aulas acabam sempre de manhã e há sempre uma luz quente a espreitar pelas palmeiras do liceu, a convidar alunos e professores para um copo no bar da praia. Nas novelas não se estuda, queixa-se de que se tem de estudar. Os professores são pouco mais velhos que os alunos e as aulas duram geralmente 2 minutos. A rapariga das novelas é gira, mas não o percebe. No seu jeito desengonçado, está sempre perfeita e tem sempre um sorriso nos lábios. O rapaz também é giro – e sabe-o. Confiante e sorridente, “dandeia-se” no bar da escola e derrete os corações das personagens secundárias. Nas novelas há os bons e há os maus. Os bons ganham e os maus perdem. Uns maus tornam-se bons – porque aprenderam que não compensa ser mau. Outros não – e emigram. Nas novelas as histórias de amor são previsíveis, logo, perfeitas. O rapaz, apaixonado pela rapariga, convida-a para um sorvete à noite. Ela fala e ele ouve-a, porque a adora; ele fala e ela ri-se, porque ele tem piada. Atrapalham-se a falar, dizem coisas espontâneas ao mesmo tempo e descobrem que têm tudo em comum. Se começar uma tempestade tropical, é fácil, há sempre um abrigo – vá lá, o carro do rapaz, ali ao lado. Encharcados e a tremer de frio, tiram a roupa e beijam-se até os vidros do carro embaciarem.
Acordei com a conversa da senhora, aparentemente uma militante por causa alheia, que até tinha ido na semana passada à greve da GNR substituir o genro que estava no Algarve.

No caminho de regresso ao carro, enquanto pontapeava uma lata de Nestea amolgada, percorri novamente a fila e voltei a observar os jovens aspirantes ao estrelato. Talvez o que motive estes rapazes e raparigas não sejam a fama fácil, o dinheiro fácil, a vida fácil. Talvez não sejam os segredinhos entre carteiras a meio da aula de Matemática. Talvez os miúdos estejam, simplesmente, saturados. Talvez o que os motive não seja algo que os puxa, mas algo que os empurra. Não cheguei (como frequentemente não chego) a nenhuma conclusão.

Ser morango não é pêra doce. Ali ao longe, a meio da fila, um miúdo com pouco mais de dez anos abrigava-se atrás de uma árvore dos carros que passavam e, entalando-se no saco-cama, preparava-se para dormir.

* (Texto publicado na revista "Iuris Grafia", edição Janeiro, Fevereiro e Março 2006) JB

Casamento Um Poucochinho Gay*

Assistimos há umas semanas na nossa faculdade a um recolher de assinaturas. Como gosto de ajudar as pessoas e toda a gente me diz que tenho uma caligrafia invejável, assinei desenfreadamente e com um sorriso na cara todos os espaços em branco que encontrei. Só depois me disseram ao ouvido, entre dois goles para empurrar um Xanax, que tinha assinado uma petição a ser entregue à Assembleia da República para legalizar os casamentos homossexuais. Não fôra eu grande admirador da malta bloquista (vegetarianos inclusivé), o meu frágil organismo teria entrado em colapso.
Dos analistas no telejornal às comadres no autocarro, da blogosfera às manhãs da TVI, quem não dissertasse sobre o casal sensação era olhado como gay reprimido ou homofóbico despudorado. Ora, sendo eu ambas as coisas, teria tomado a liberdade de juntar o meu bitaite aos restantes e teria iniciado naquela mesa e naquele momento um inflamado debate.

Enfim, tudo havia começado com um episódio. A Teresa e a Helena queriam casar-se. Até aí tudo bem, tudo porreiro. Mas a Teresa e a Helena queriam casar-se uma com a outra. O problema jurídico é simples. “A Teresa e a Helena querem casar-se uma com a outra. Quid Juris?” Mas a querela jurídica é mais birrenta.
Para uns, o Código Civil viola desavergonhadamente o princípio constitucional da igualdade porque priva uma parcela de indivíduos de um determinado direito – o direito a casar. Para outros, não há qualquer contradição entre a Constituição e o Código Civil porque a não discriminação em função da orientação sexual prevista no artigo 13.º da Constituição não enferma que a definição de casamento seja o que é (uma união entre um homem e uma mulher) e que os homossexuais possam de facto casar – com alguém de sexo diferente.

Mas como não sou uma pessoa séria nem o Direito me diz nada, não era disto que vinha aqui falar. A Teresa e a Helena querem casar-se. Uma com a outra. Ouvi a notícia esparramado no sofá entre duas colheres de Weetabix e entornei a malga de cereais no tapete e nas pantufas. As minhas mãos tremiam, incrédulas. Elas e eu. Não queria acreditar nos meus ouvidos, não podia ser verdade o que ouvia. Soltei um gritinho que despertou o meu cão da digestão, desatei a correr com as mãos no ar e tranquei-me no meu quarto. A minha cabeça centrifugava, trabalhava a mil à hora. Anos e anos de conversas, páginas e páginas de revistas marotas... Estava derrubado o Mito da Lésbica Gira.
Foi nesse momento que me lembrei da minha antiga professora de Filosofia (que não era lésbica mas era danadinha por silogismos categóricos). Sentei-me na cama, enxuguei as lágrimas homossexuais e respirei. Vamos por premissas: Todas as lésbicas são giras. A Teresa e a Helena não são giras. Aliás, não desfazendo, são feias. Logo, a Teresa e a Helena não são lésbicas. Podem ser padeiras, funcionárias públicas ou profissionais de corfebol, mas lésbicas não são.

Percebi que talvez andasse a ver Dragon Ball a mais quando qualquer frase que ouvia da boca dos protagonistas me parecia uma ameaça aos povos da Terra e do Universo. O advogado do casal, que altruisticamente prescindiu dos honorários (temos de ser uns para os outros), cita Chico Buarque e Ney Matogrosso entre dois pezinhos de samba e solta um “vou até ao fim!” de punho erguido. Teresa, a do bigode, é ainda mais afirmativa quando diz, e aqui estou a citá-la (e aqui citei Mário Crespo), “Não hei-de morrer sem estar casada em Portugal.” Mas, valha-me Deus nosso Senhor, ao depravado pedido dos jornalistas, as moças tiveram o bom senso de responder “não há beijinhos”.

Vamos a um supônhamos: Suponhamos que é Helena o macho da relação, ou que, vamos lá, abraçou a missão de propor Teresa em casamento. “Olá, sou a Lena. Sou feia como os trovões e reparei que tu também. Às tantas somos maricas, por assim dizer. Queres casar comigo, desafiar a nossa ordem jurídica e ser feliz?” Não é verosímil, não é aceitável.

Para uns, o casamento homossexual é um escândalo. Para outros, é um escândalo a discriminação de que os gays são alvo. Para mim, escandaloso, escandaloso é o penteado da Helena.

* (Texto publicado na revista "Iuris Grafia", edição Janeiro, Fevereiro e Março 2006) JB

quarta-feira, maio 24, 2006

Gincana Presidencial 2006
(Porque recordar é viver)*

“Desta vez a coisa rendeu!” pensava eu para os meus botões, enquanto num passo acelerado percorria uma Lisboa outonal. Talvez fosse pela crise, talvez pela sempre crescente taxa de desemprego, fosse pelo que fosse, para onde quer que se olhasse, via-se um candidato a candidato a nosso chefe de Estado. Um verdadeiro boom de individualidades com pouco mais para fazer. Nas bocas das estações de metro, ao lado dos vendedores de castanhas e comerciais da Netcabo, era quase certo encontrar um. E todos me pediam o mesmo: o meu gentil apoio por meio de uma assinatura. Tendo tempo e curiosidade, não raras vezes me deixava ficar para ouvir o que me tinham para dizer. Pregavam o fastio pelo sistema partidarizado e o estado decadente do país. A crise da segurança social. O aumento dos impostos. Tal era o tom pré-apocalíptico que, quando a profecia acabava, já estava deprimido. Nunca por muito tempo, felizmente, pois eles tinham sempre a solução. José Maria Martins, Carmelinda Pereira, Manuela Magno, Gonçalo da Câmara Pereira. Tudo se resumia a uma questão de escolha. Normalmente, era por esta altura que me lembrava que tinha o jantar ao lume, pedia desculpa e entrava no metro.

Entretanto, a grande questão da pré-gincana mantinha-se. Estariam as barritas Chocapic à altura do formato tradicional de pacote? Quanto a esta, a doutrina ainda diverge. Porém, o dia 20 de Outubro foi um marco decisivo de resposta à segunda pergunta que mais atormentava os portugueses: “Candidatar-se-ia Cavaco Silva à Presidência da República?”. Foi com metade de um país a olhar para ele que Cavaco pôs cobro à longa expectativa criada pelos media e se inscreveu na disputa, para deleite dos já concorrentes Mário Soares, Manuel Alegre, Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã. A gincana presidencial podia agora começar.

Mário Soares, mais experimentado nestas coisas, foi o que mais cedo se adiantou nesta corrida de carácter excêntrico. Uma entrevista à TVI, em princípios de Novembro, foi quanto lhe bastou para assegurar aos portugueses que estava “bem da próstata e tudo”, enquanto apontava para a dita, tentando, deste modo, afastar as críticas insistentes de que já não caminhava para novo. Infelizmente, conseguiu desmentir-se nos restantes minutos da entrevista. Este momento bonito de televisão serviu, no entanto, para dar um cheirinho de como seria a sua prestação, nos meses seguintes. E não desiludiu. Soares fez tudo para tentar tirar votos a Cavaco, desde acusar os media de imparcialidade a favor de Cavaco até sugerir que a sua participação seria “atingida por intrigas”, e a cada ataque novo que perpetrava descia um degrau na escadaria do bom-gosto. Assim foi a sua gincana. Uma gincana demasiado focada em ataques pessoais a Cavaco “Alvo de Estimação” Silva, que mais tarde viria a dar lugar a uma “campanha afectiva”, como o próprio anunciou. Uma gincana em que o candidato de 81 anos, há 30 na política activa, lamenta “a ausência de renovação da classe política” e recusa, numa altura em que o nosso Estado já é inevitavelmente pós-social, “a ideia da falência do Estado social”. Uma gincana marcada por declarações verdadeiramente demonstrativas de uma falta de destreza mental requerida para a execução do cargo de chefe de Estado, como a associação de Ribeiro e Castro, líder do CDS-PP, ao Partido Socialista Europeu. Enfim, uma anti-gincana que se ia auto-desfazendo, sem que o PS, que a tinha apoiado, pudesse fazer alguma coisa para o contrariar. Juntemos a isto os cartazes maus demais do recém-criado MP3 - Mário a Presidente pela 3º vez - e o já velhinho slogan “Soares é fixe!”, para percebermos os resultados da noite eleitoral. Mas quanto a isso já lá vamos.

Importa agora falar um pouco do outro protagonista desta prova: Sr. Silva, na boca de alguns, Cavaco na da maioria. E que prova essa. Capaz de ensinar a arte da guerra ao próprio Sun Tzu, de tão calculista que foi. Gizada milimetricamente, desde a incerteza expectante a que levou o seu tardio anúncio de candidatura até à obstipação voluntária de ideias, que tinha o dom de deixar o eleitor confuso se elas ficavam retidas na fonte ou não existiam de facto, teve sempre por objectivo primacial a redução de discursos e debates aos mínimos sustentáveis. Cavaco tinha a consciência clara que os corações dos seus organizadores de campanha fraquejavam, sempre que se aventurava numa resposta mais longa aos jornalistas, temendo uma gaffe que lhe retirasse de uma golpada uma parte substancial dos 60% de intenções de voto, que uma chegada sebastianista ao panorama político nacional lhe tinha granjeado. Dir-me-ão: “Que raio de campanha!”. De facto. Mas a verdade é que, deste modo, Cavaco se poupou a momentos verdadeiramente embaraçosos, semelhantes aos de Soares, conseguindo assim levar uma corrida limpa, praticamente imaculada, embora aparentemente desprovida de substância. Aparentemente, sublinho. E já que falamos em participações desprovidas de conteúdo, passemos ao próximo concorrente: o Manuel alegre.

Manuel, insatisfeito com o candidato apresentado pelo seu partido e desejando restaurar ao país um pouco da glória lírica perdida desde as epopeias, começa a criar atrito dentro do PS, ao ponto de começar a incomodar José. Os amigos de José informam-no de que tem de fazer alguma coisa, face a este desafio à disciplina partidária. Quid Juris? José nada faz e Manuel concorre, à revelia do partido, à gincana presidencial. Seguindo uma lógica de independência partidária, que muito furor tem feito nos últimos tempos, Manuel inicia o que apelida de um “movimento de cidadania” e vai ganhando, aos poucos, os votos dos descontentes com Soares e com Cavaco, não obstante a mediocridade da sua própria prestação. E cada intenção de voto que ganha torna-o mais alegre e desinibido. E mais. E mais um bocadinho. Até que um dia dá por si proclamando, com voz grave e declamada, que só ele conseguiria derrotar Cavaco Silva, numa segunda volta. E a verdade é que iria estar muito perto disso.

O mesmo não se pôde dizer dos restantes concorrentes. Feita a triagem do Tribunal Constitucional, restaram dos iniciais onze apenas três: Jerónimo de Sousa, Francisco Louçã e o recém-aparecido Garcia Pereira, que finalmente conseguira ganhar alguns minutos de antena depois de se ter queixado a todas as entidades possíveis e imaginárias da onda de discriminação que os media lhe dedicavam.

Quanto a Jerónimo, uma retrospectiva dir-nos-á que perfez uma corrida acima das expectativas, embora bem longe dos lugares de topo, tendo conseguido mesmo alguns momentos de assinalável sucesso, de entre os quais recordo a enchente no Pavilhão Atlântico e também....portanto…aquele outro, mostrando-nos desse modo que “assim se vê a força do PC”, numa clara alusão à informatização global, que tantos postos de trabalho rouba aos operários portugueses.

Já a prova de Francisco Louçã prometia ser bem melhor do que veio a ser. Um bom primeiro desempenho nas entrevistas e debates televisivos tinha dado a esperança de que talvez fosse desta que o Bloco de Esquerda extravasasse o público-alvo 16-30 anos e conseguisse uns resultados eleitorais que impressionassem. Porém, um resto de gincana com as mesmas ideias de sempre, envolvidas no populismo habitual, foram suficientes para dissipar as dúvidas e remetê-lo para um desonroso penúltimo lugar, apenas à frente de…

Garcia Pereira. O único candidato não pertencente a um dos partidos “clássicos”, conseguiu com mérito, passar na primeira eliminatória do Tribunal Constitucional, e representar as cores do PCTP/MRPP no dito evento. Esforçou-se muito e, apesar de restos de farinha na cara, acabou a prova com um excelente aspecto, o que muito satisfez, por fim, a democracia portuguesa.

Durante meses tivemos de os ver todos os dias na televisão e, não vos escondo, houve tempos em que pensei desistir disto tudo e ir viver com a comunidade hippie de Katmandu. Porém, não o fiz. E é com orgulho que posso hoje, ao olhar para trás, afirmar, e citando Bryan Adams, “those were the best days of my life”, que é como quem diz “ricos dias de regozijo”.

Feitas as contas no final, os resultados eleitorais foram o reflexo da prestação de cada um dos atletas. Vitória de Cavaco à primeira volta com 50,6% dos votos, que demonstrou que é possível ser eleito Presidente da República sem dizer grande coisa, seguido de Manuel Alegre com 20,7% e de Mário Soares com 14,3%, a prova viva de que ainda vale a pena cometer harakiri aos 81 anos. Jerónimo de Sousa, Francisco Louçã e Garcia Pereira ficaram-se pelos 8,6%, 5,3% e 0,4%, respectivamente.

“E agora?”, deparava-se o cidadão mais preocupado. Como seria, a partir daquele momento, a relação entre Cavaco e Sócrates, a chamada coabitação? Os agouros embrulhavam o panorama político de forma cada vez mais apertada. Desde Jorge Coelho, quando Cavaco ainda nem candidato a candidato era, até Manuel Alegre, mais recentemente, prever um futuro negro para esse relacionamento tornara-se o lugar-comum de grande parte da esquerda portuguesa. Ora, na minha opinião, e de um ponto de vista monocromático, não sendo Sócrates de esquerda nem Cavaco de direita, só posso concluir que esta relação tem tudo para dar certo. Resta-me por isso desejar-lhes a continuação. A continuação.


* (Texto publicado na revista "Iuris Grafia", edição Janeiro, Fevereiro e Março 2006) BF

segunda-feira, maio 22, 2006

Honestidade

É no mínimo curioso ver os D'ZRT num anúncio da Sociedade Portuguesa de Autores em defesa da propriedade intelectual e dos direitos de autor. Não é que não goste da sua música nem que o Topê não me dê os calores (ainda não me esqueci daquela noite maluca), mas eu cá não apregoava o Evangelho se não o conhecesse. Que é como quem diz, rapazes, tenham vergonha na cara.

Para Mim Tanto Me Faz
D'ZRT


High School Queen
Nami Tamaki


JB

sábado, maio 20, 2006

No shit!

quinta-feira, maio 18, 2006

A minha irmã foi hoje ao Lux


Karolina Kurkova

E eu fiquei em casa. JB

terça-feira, maio 16, 2006

Silogismo categórico (II)

Todos os planetas são gasosos.
O Huguinho é gasoso.
O Huguinho é um planeta.

JB

segunda-feira, maio 15, 2006

E agora algo completamente diferente

"Nuclear: União Europeia vai apresentar proposta "audaciosa" ao Irão"

- E que tal... acabarem com essa ideia do enriquecimento de urânio, hum? BF

Gracejo jurídico

- Já fizeste Família?
- Ainda não. Mas vou fazê-la no quarto.

Ao Rocha. JB

sábado, maio 13, 2006

Princípio da Continuidade

São capazes de se passar meses sem me deparar com pedaços vivos de passado. E depois há aqueles dias em que a minha vida parece um excerto alucinante do "Regresso ao Futuro". É nesses momentos que percebo que isto não está por episódios. BF

Da série "Conspiro que me farto"

Acabo de me dar conta da enormidade de mensagens subliminares em português a que a música me sujeita constantemente. Senão vejam. BF

terça-feira, maio 09, 2006

Bom Começo

domingo, maio 07, 2006

Japonês para Principiantes - Lição nº 3


Anzu Sayuri

Watashi ha haru ga suki. Tatei watashi ha kono toki ni okane wo kasegu - Adoro a Primavera. Normalmente é por esta altura que faço mais dinheiro.

(sendo que haru significa "primavera", suki "adoro", tatei "normalmente", kono "esta", toki "altura", okane "dinheiro" e kasegu "faço")

BF

sexta-feira, maio 05, 2006

Haja Confiança!

"Esquizofrenia afecta 60 mil a 100 mil portugueses, diz especialista"

Numa altura em que se fala tanto da falta de produtividade e consequente crise económica, ter pelo país fora dois gajos pelo preço de um a laborar é das melhores coisinhas que nos podiam ter acontecido. BF

A Leste do Paraíso

"Irão admite "mudar de política" a pedido da Agência Internacional de Energia Atómica"

Entretanto, numa clínica de reabilitação:
- Olá. O meu nome é Mahmud e tenho um irmão gémeo maléfico que quase levou o meu país para a beira de uma guerra nuclear, enquanto estive numa cápsula de criogenização.
- (em coro) Olá Mahmud.

BF

Chico esperto

- Era um café e um pastel de nata, por favor.
- Sai uma bica e uma nata!
Sempre me havia fascinado o dialecto das pastelarias. Um pastel de nata era uma nata, uma sandes mista era uma mista, um café cheio era um cheio e uma meia-de-leite era, enfim, uma meia-de-leite. Dava-me, no entanto, a sensação de que o verdadeiro intento dos donos dos cafés não seria o da economia de palavras, mas antes o de mostrar ao cliente a sua abominável ignorância no que toca a pastéis. Afinal de contas, aquilo de trabalhar no ramo dos bolos desde mil nove e sessenta sempre dava direito a certos fait-divers.
- Ora aqui tem... - disse, pousando o pires e o prato no balcão.
- Tem canela?
Arregaçou as calças e levantou a perna, mostrando-me, orgulhoso, a sua peluda tíbia.
- Serve?
Achei-lhe piada, sinceramente, mas o dia ia já longo demais para esboçar um sorriso e as coisas não me andavam a correr de feição. O empregado, visivelmente desiludido com a falta de élan provocado pela graçola, lá me chegou a canela-condimento.
Como lhe poderia eu explicar que, naquele dia, entre três notas de testes eufemisticamente menos boas, tinha tido tempo ainda de ouvir coisas como "era suposto despejarem tudo o que sabiam sobre esta matéria" e "não havia cotação para a chico-espertice de escrever sobre o que não lhes era pedido", sem forças sequer para questionar o seu antagonismo? Chico-espertice? Chico-espertice tem o senhor, ouviu? Chico esperto é este homem à minha frente, que me mostra a canela enquanto como um pastel de nata! Eu, de chico esperto, não tenho nada! Nem de chico, nem de esperto. Hoje sou muito burro. Hoje acordei duas horas mais cedo do que devia porque me esqueci de que a aula tinha sido desmarcada. Hoje perdi o autocarro porque não tinha nem passe, nem bilhete, nem dinheiro e não encontrei um multibanco num raio de três quarteirões. Hoje passei por filantropo e fiquei feliz por provocar um sorriso a alguém neste mundo quando me enganei a preencher o número de telefone ao carregar o telemóvel. Hoje tropecei numa pedra da calçada à frente de um grupinho de raparigas do liceu. Hoje... Acordei com o som das buzinas e de um carro que travara a fundo no cruzamento. Estava já atrasado, meti metade do pastel de nata na boca e empurrei-o com o fundinho do café.
- Depois dava-me um copo de água, se faz favor.
- Um copo de água ou um copo com água?
Deixei uma nota no balcão e fui-me embora. JB