sexta-feira, outubro 28, 2005

Não fui eu que o disse

Manuel Alegre tem apoio nos pequenos e médios intelectuais. JB

Santa Candura (V)

“-Menina, o seu brasão tem setenta e dois costados e nem uma quebra. Só depende da sua vontade ser a mulher do maior senhor da América meridional e que ainda por cima tem um tão soberbo bigode.”

"Cândido"
BF

Balanço de uma pré-candidatura

Um fiasco. Um vil e inegável fiasco.

Dos quatro e-mails que recebi três eram da minha mãe. O outro era do meu pai a dizer-me que não tenho perfil para presidente.

Vá lá que o Aníbal teve a mesma ideia que eu, mais ou menos na mesma altura. Nem tudo é mau.
BF

quinta-feira, outubro 27, 2005

Andas a fazer asneira... (VI)


Naomi Watts
BF

Arrebenta a bolha!

Notícia de Jornal da Noite

"Benfiquistas descansados: teste do gripe das aves à águia "Vitória" deu negativo, assim como o teste às salmonelas."

Tudo bem que ia em rodapé mas... Por amor de Deus!
BF

Santa Candura (IV)

“A custo consegui desembaraçar-me da multidão de cadáveres sangrentos amontoados e arrastei-me para debaixo de uma enorme laranjeira, na margem de um rio próximo. Aí caí, de terror, de cansaço, de horror, de desespero, de fome. Estava assim nesse estado de fraqueza e insensibilidade, entre a vida e a morte, quando me senti comprimida por qualquer coisa que se movia sobre o meu corpo. Abri os olhos e vi um homem branco, de boa cara, que suspirava e murmurava entre dentes: Que infelicidade não ter colhões!”

"Cândido"
BF

quarta-feira, outubro 26, 2005

Santa Candura (III)

“Envelheci na miséria e no opróbrio, não tendo senão metade de um traseiro, recordando-me sempre de que era filha de um Papa”

"Cândido"
BF

segunda-feira, outubro 24, 2005

Santa Candura (II)

“Os clamores partiam de duas jovens inteiramente nuas que corriam vivamente no limite do prado, seguidas por dois macacos que lhes mordiam as nádegas.”

"Cândido"
BF

Viagens na Minha Terra (XIV)

Chão das Maias é a Royston Vasey portuguesa. JB

domingo, outubro 23, 2005

Santa Candura

"Tudo está bem; seja, mas confesso que é uma crueldade ter perdido a menina Cunegundes e ser metido no espeto pelos Orelhões (…). Não deixeis, Cacambo, de lhes fazer sentir como é medonhamente desumano cozinhar os homens, e quanto isso é pouco cristão."

"Cândido"
BF

Erro de perspectiva

sábado, outubro 22, 2005

Reentrée (ou Que Dia Chuvoso Este de Hoje, hein?)


Shannyn Sossamon
BF

sexta-feira, outubro 21, 2005

Viagens na Minha Terra (XIII)

"Dior Homme est un hommage à l'Iris, l'emblème de la couronne française et le symbole japonais de la fécondité masculine. L'odeur poudrée de l'Iris est également très sensuelle." JB

quinta-feira, outubro 20, 2005

A candidatura por todos aguardada

Um dia crucial este, há tanto tempo desejado, tanto pela comunicação social como por qualquer cidadão minimamente interessado pela política nacional. É verdade. Muita coisa se disse sobre esta inevitável candidatura, muita mais se pensou. Seria fatal para a esquerda? Que ideias traria para Portugal? A pressão esteve, durante uns meses, no limiar do suportável. Mas nem por isso o candidato cedeu. Mantendo-se fiel à estratégia de silêncio desde o início, tal como muitos outros o fizeram, foi com naturalidade e tranquilidade que viu o dia hoje chegar-lhe pela janela. E é com essa mesma placidez que vos informo, neste dia 20 de Outubro, do há muito prometido aos portugueses.

Eu, Bernardino Fernandes, serei o vosso candidato, portugueses, nestas próximas eleições presidenciais!

Sei que será difícil. Conheço as dificuldades que se me avizinham. E é sobre isso que vos quero falar. Que vos quero pedir o vosso apoio. Que vos quero apelar ao vosso esforço. De humano para humano. De português para português. Serão necessárias 7500 das vossas assinaturas para realizarem o vosso sonho. O sonho de ver um Portugal diferente. Um Portugal do progresso. Um Portugal da mudança.

Depende de vocês, portuguesas e portugueses! Depende de vocês se continuamos nesta estrada de contenção ou se vivemos a vida como ela deve ser vivida. Se passamos os dias dourados da nossa existência a viver em condições miseráveis ou se vamos à luta e ultrapassamos esta crise. Não nos deixaremos vencer pela conjuntura, amigos! Não me deixarei vencer pela conjuntura! Isto vos prometo.

E é para isto que preciso da sua assinatura. Traga a esposa e os filhos. Venha contribuir para um novo Portugal e diga aos seus amigos "Eu estive lá. Eu vi com estes olhos o futuro radioso que nos espera. Eu ajudei a mudar Portugal".

Envie já a sua assinatura para o endereço de e-mail deste blogue. Temos cem tostadoras para os primeiros cem e-mails recebidos. Seja rápido. Seja português.

BF

quarta-feira, outubro 19, 2005

Carta de um pai furioso

Caro director de programação da TVI,

Serei breve. Escrevo para dar conta de uma coisa que me vem perturbando. Em três
palavras: "Morangos com Açúcar". Não bastava a falta de imaginação dos enredos, a fraca qualidade dos actores e a limitação lexical dos diálogos da série, tinham agora de descer a um nível mais baixo, tinha eu de ver por acidente o que vi. No bar da praia, uns miúdos aproximam-se do balcão e pedem shots. Brindam a uma entidade qualquer e engolem num trago. Fazem caras arrepiadas de prazer amargo (a primeira vez que vi boa representação) e pedem mais uma rodada. Ora, a novela que transmitem ao fim da tarde tem como público alvo a faixa etária dos 10 aos 16 anos. Não se trata aqui de um programa destinado aos adultos. Esses, mais crescidinhos, têm (ou deveriam ter) o discernimento para escolher por eles próprios os programas que acham mais interessantes ou, no panorama nacional, menos estupidificantes. Os miúdos, por outro lado, consomem o que se lhes dá. De que servem as sobrancelhas carregadas e os olhares reprovadores dos paizinhos quando ouvem estatísticas de que os jovens de hoje bebem demais e demasiado novos? A isto chamo-lhe hipocrisia. Para não lhe chamar crise de valores.
O outro assunto que queria abordar, directamente ligado ao anterior, prende-se com quatro letras e um apóstrofo: "D'ZRT". Não querendo ser exaustivo no que de mais óbvio se pode dizer sobre o fenómeno (mas sim, ainda me lembro de quando os quatro rapazes faziam o papel de banda do liceu e ensaiavam as primeiras toscas coreografias para cantar no bar da praia), escrevo uma palavra ou duas sobre o seu novo teledisco: "Música? Sexo!". Ao que parece, os desenhos animados dos D'ZRT andam excitados pela discoteca a beber martinis e a esfregarem-se em desenhos animados de meninas com as maminhas à mostra e em tudo o que mexe. É que, pelo que me lembro de ter lido numa reportagem, a faixa etária da plateia nos seus concertos é ainda mais baixa do que a que assiste à novela propriamente dita. Se há pouco o problema era o Álcool Porque É Fixe, parece agora que o problema é o Sexo Porque É Uma Coisa Natural E Toda a Gente o Faz Por Isso Não Tem Mal Nenhum Perder a Virgindade aos Doze. Com o Topê.
Um abraço e as melhoras,

Pai Furioso

Este pai sou eu. E não tenho filhos. JB

Parabéns

Hoje um amigo de que eu gosto muito faz anos, pelo que fiz questão de passar a meia-noite de ontem com ele e outros amigos.
Onde é que um grupo de amigos se pode encontrar a horas tão impróprias, tão inconvenientes; ou melhor como é que o faz?
Pois sucedeu que fomos até ao Estoril beber uns copos, até que chegasse a bendita hora do seu aniversário.
Posto o cenário digo-vos o seguinte: o mundo nem sempre é um espaço livre, as ruas de Portugal não são lugares onde se possa estar. Não é muito boa ideia sair á noite de casa e andar simplesmente pela rua, um dia acontece porcaria. Mais tarde ou mais cedo acontece algo.
Há poucas coisas tão destruidoras como deficit cognitivo grave na pessoa de um jovem, disso asseguro-vos eu, mas um grupo de 15 bestas sem inteligência. é arrasador.
Não são criminosos "stricto sensu", porque apenas são putos, apenas atrasados mentais, labregos, vermes, imbecis, atrasados mentais. Não permitiram um grupo de amigos festejar um aniversário, como também não conseguiram evitar humilhar um sem-abrigo, e portanto fomos obrigados a assistir a merda.
Cumpre dizer que isto é um caso normal de arruaceiros, acontece. é a vida.
A verdade é que eles são autênticos criminosos, ocupam um espaço que é de todos, fazem sentir-nos obrigados a voltar para casa, a sensação de que nem sempre podemos estar onde quer que seja sem sentir a adrenalina de uma cena de pancadaria...Porque sair à rua àquelas horas não é de boa gente.
Eu não percebo se é por mal, ou que outra razão há para o passatempo de alguém ser arranjar confusão, mas parece-me isso sim que o Messias se esqueceu de nos avisar contra o deficit cognitivo grave. É um perigo, tanto em chefes de estado do Texas como num grupo de jovens cheios de entusiasmo. RR

"Levas agasalho?" (VI)


Ana Beatriz Barros

À minha mãe. JB

terça-feira, outubro 18, 2005

Olhó candidaaato!

Noto com prazer o quão interessante esta corrida às presidenciais pode ser, enquanto, em passo acelerado, percorro Lisboa. Numa estratégia semelhante, mas bem sucedida, à de Cavaco Silva, muitas figuras proeminentes sairam nestes últimos dias da sombra para se assumirem como candidatos a candidato à Presidência da República, para meu alegre contentamento.

Por exemplo, aquele senhor que aparecia na televisão a propósito daquele caso da pedofilia mas cujo nome não me recordo agora...chatice! De qualquer das maneiras, esse senhor pedia-me hoje apoio para ser candidato a Belém. Deu-me um panfleto e tudo. Gostei muito. Gostei de ler que ele é "um homem igual a todos nós", que trabalhou no "amanho da terra" em miúdo e que aos dezoito anos tinha a sexta classe. Gostei também de notar que ele é um homem com ideias e ambições para Portugal, ou não me prometesse ele que "contribuirá para que Portugal preserve a sua independência, cresça e onde os portugueses vivam felizes". No fundo, que mais podemos pedir nós de um Presidente da República?

Esta tentativa de candidatura resulta de dois factores muito importantes:
1. A moda de concorrer como independente, seguindo a lógica do "Longe dos partidos, perto do povo", expressa mais uma vez numa candidatura, após a sua popularização nas autárquicas.
2. A ousadia que a candidatura de Manuel João Vieira, nas últimas presidenciais, veio dar a estes novos wanna-be-qualquer-coisa-de-importante-ou-não-apareci-já-eu-na-televisão.
O facto de o senhor achar que é "o maior" também deve ter tido algum peso.

Outros vieram mais tarde tentar convencer-me e pedir a minha ajuda para serem presidentes. Não lhes liguei. Disse-lhes que tinha um panfleto de um senhor da Casa Pia (é isso!) e que ele não estava corrompido pelos partidos. Que era um homem do povo e que só ele sabia desta nossa vida difícil, "incompreendida por vocês, seus abutres". E afastei-me. BF

Escusavas de te ter incomodado comigo, ó Pedro

"Trouxeste tanto que me querias contar
Sobre as cidades que há no fundo do mar
E eu estou aqui..." JB

segunda-feira, outubro 17, 2005

Site Meter v.1.1

Sonho com o dia em que este blogue apareça à frente de sites de prevenção rodoviária ou de combate à acne juvenil na pesquisa por "pontos negros" no Google. JB

Viagens na Minha Terra (XII)

Quanto maiores as cidades, mais loucos os loucos. JB

Viagens na Minha Terra (XI)

Mais rude que gente rude do campo é gente rude do combóio. JB

sexta-feira, outubro 14, 2005

Aqui fala-se de férias (ou Homenagem às raparigas mais bonitas de um inter-rail)

Como alguém disse um dia, com alguma razão, "todas as raparigas são mais ou menos bonitas". Tudo bem. Mas depois há as muito bonitas.


Southern Girl
Incubus

"You're an exception to the rule
You're a bonafide rarity
You're all I ever wanted
Southern girl
Could you want me?"

À minha irmã, à instituição e às portuguesas em geral.
Hoje sinto-me sexy! Vou sair à noite e já cá venho. JB

Aqui fala-se de férias (ou Memórias das raparigas de um inter-rail)

Serei breve. Darei apenas algumas achegas. É que a imaginação, a seguir às vistas, é a coisa mais preciosa que a gente temos. Confiem na opinião de um tipo que abusa nos posts com Adriana Lima.

As italianas pintam-se demais, vestem-se mal, furam toda a pele que têm à mostra e não percebem o conceito de roupa interior. Talvez esteja a ser parvo, mas tenho para mim que a roupa interior, por ser interior, deve ser usada debaixo de outras roupas. É provável que esteja errado. Não fôra isto tudo, diria que são um povo extremamente bonito. Mas não deu para reparar.

Excepção feita a um ou outro gorila, as austríacas são miúdas excepcionalmente giras. Todas incrivelmente parecidas, com uma ou outra fora de série. Os beijos nos jardins imperiais marcaram-me para a vida. Pintam-se demais.

As belgas não são feias como as pintava. Mas pintam-se demais.

As catalãs, cheias de pinta, são miúdas de Bairro Alto. O Bairro Alto de há uns anos atrás, note-se, não o Bairro Alto de Morangos com Açúcar. Pintam-se demais.

Por fim, está derrubado o mito da baguete na sovaqueira. Se as francesas são chiques, as parisienses são-no mais. São "chiques a valer"! Com um toque de vaidade e altivez que só lhes fica bem e um cheirinho de orgulho na sua cidade, as meninas de Paris passeiam-se debaixo das bonitas árvores acastanhadas de Setembro, nas grandes boulevards e avenidas, como se marchassem numa passerelle da Victoria's Secret. Aconchegadas nas suas roupas confortáveis e ousadas, ajeitam os primeiros cachecóis do ano e esfregam as bochechas, as orelhas e os narizinhos vermelhos. Encantadoras! JB

Aqui fala-se de férias (ou Memórias de um inter-rail)

O texto que a seguir se segue deve ser encarado como uma aspiração minha a Jennifer Convy, encantadora apresentadora do meu programa preferido de sempre, Intimate Escapes. Se não costuma ver o People&Arts, pela sua saúde, pare aqui.

Começo no sul de França. Biarritz é um Estoril em ponto grande. As mesmas casinhas e casarões, os mesmos hotéis apinhados de turistas, as mesmas palmeiras a simular a vida nos trópicos, o mesmo casino e a mesma praia, mas com ondas. As cocotes, essas, há-as em maior número e falam todas francês. Bayonne, a terra dos Berhans, é como eu: bonitinha, lavadinha e com uma massa corporal extraordinária. Nice é feia. Mas é também um bom pretexto para laurear a pevide em Cannes e no Mónaco - ambas cidadezinhas pequeninas, prosperazinhas e com um je ne sais quoi de altivez.

Agora Itália. Pisa tem a chamada "Torre Inclinada de Pisa". Notei que é realmente inclinada. Daí o nome. Florença é pequena e cheia. Opulenta e majestosa, com uma estátua, igreja ou praça renascentistas ao virar da esquina, tem ao mesmo tempo traços de vila pacata. Mais do que Roma, claro. A essa não lhe cheguei a ver encanto na luz ao fim da tarde, como me sugeria muita gente. Talvez porque não tenha lá passeado ao fim da tarde. Grande, exageradamente grande, vale pelo peso da História, que se sente, que se respira. Uma grande cidade. Bari? We'll always have Bari! Veneza, por fim, é tudo aquilo que se diz sobre ela e muito mais. É das poucas cidades que consegue superar as expectativas que se tem em relação a ela, por muito altas que sejam. Mas chega de futebol, passemos à Áustria.

Viena é a melhor cidade da Europa. A seguir a Lisboa, que é Lisboa, e a Paris, que é Paris (já lá vamos). Viena é clara e arejada, cheira a flores e a perfumes e a bolinhos, tem requintadas lojinhas gourmet e está repleta de jardins catitas, portas-meias com os palácios do Kaiser (o Franz, não o Chief), onde grupos de raparigas lindíssimas, não sendo lesbianas, celebram a vida com calorosos beijos na boca, tartes de mirtilhos, salsichas com mostarda e cervejas boémias. Aconselho vivamente (a rapazes e a raparigas) um Erasmus por estas bandas. Eu, pessoalmente, planeio mudar-me para lá. Danke schön Anissa für ihre Gastfreundschaft. Viele Küsse! Engasguei-me. O que acabei de escrever não quer dizer absolutamente nada. Prosseguindo...

Budapeste, a "pérola do Danúbio", está longe de ter brilho que faça justiça ao nome. Lavem as fachadas (qual reabilitação urbana Santanista), arranjem ventos dominantes que arrastem o fumo dos tubos de escape para longe e terão uma cidade bonita. Muito bonita.

Praga, comparativamente, é um sonho de cidade. Como nos opinou um turista americano num combóio, "Budapest is still changing, still trying to become a big city. Prague has done it already". E tinha alguma razão. Praga orgulha-se de si, das suas pessoas, da sua cultura e do estilo de vida que leva (uma mistura saudável entre dandismo boémio do séc. XIX e festa rija toda a noite), muito graças aos inúmeros jovens estudantes e à cerveja boa e barata. Em jeito de rodapé, registe-se o facto de não ter encontrado um único checo sóbrio. São esses e os polacos. Falando neles...

A Polónia? Curiosa. Salame e mostarda, vodka e rum. Ptrovnija! Um abraço ao Marius e ao Yannick, companheiros de viagem, Gente Rude do Combóio como nós! Cracóvia é pequena demais para doze horas de espera - daí ao Museu do Holocausto era um pulinho, pelo que fizemos das tripas coração e arriscámos uma visita. Ir a Auschwitz, à falta de melhor adjectivo, é perturbante. Não "perturbante" no sentido moralista do termo, se o há. É perturbante porque sim, porque se entra sem abrir a boca e se sai sem ter dito uma palavra. E sem falar se fica durante umas horas. Se houver justiça no mundo, os japoneses (guia turístico inclusivé) que insistiam compulsivamente em tirar fotografias aos sapatinhos de crianças mortas no campo, como se de um recuerdo se tratasse, perderam o avião e habitam de momento o aeroporto de Varsóvia porque não arranham o polaco.

A Bélgica não é feia. A sério. Brugges, cidade-de-bonecas critalizada no tempo, não é a Veneza da Flandres mas anda lá perto e tem uma beleza enublada própria. Ela e a sua sucedânea, Ghent. Em Bruxelas, as melhores gauffres estão na Avenue de Wavrans, nº7. E as melhores massas e as melhores saladas também. Saudades!

Amesterdão é estranha. Tudo bem que as especiarias estão legalizadas, mas não podia imaginar que uma cidade inteira vivesse à volta disso, que fizesse dos temperos o seu modo de vida. E as Coffee Shops que se recusam a vender bicas e o cheiro adocicado das ruas. Açafrão, certamente.

De regresso a casa, Paris. Paris é o que se vê nos filmes, melhorada. Cosmopolita, elegante, grande e vibrante. Gosto de "vibrante". Encontrei uma Paris muito francesa, muito cheia de si, ao mesmo tempo que uma Paris lisboeta, bairrista e luminosa. E a luz torrada das boulevards ao fim da tarde e as folhas caídas de inícios de Outono, a lembrar a minha Lisboa das Avenidas Novas, da Avenida da Liberdade, da Baixa, do Chiado. Paris é uma cidade com C grande. Tipo assim, Cidade. Como diz Alexandr Petrovsky, o Russo, "Paris is the best city in the world, yes?". Falava em Nova Iorque, para uma mesa de nova-iorquinos. Não voltou com a palavra atrás porque sabia que estava certo.

Já com um cheirinho a casa na bagagem, Barcelona. Esta, verdadeiramente, é a cidade que nunca dorme. É festiva, jovem, calorosa e exuberante. Se o propósito de um Erasmus for meramente extra-curricular, nesse caso, Barcelona is the place to be. Barcelona é diversão, Barcelona é a perdição! Madrid, essa, é feia.

Lisboa. Murmurando o "Porto Sentido" de nariz encostado no vidro do combóio, tive pena que ninguém se tenha lembrado de escrever uma letra tão bonita sobre Lisboa como o Tê escreveu sobre o Porto. Ah! Sérgio Godinho... O sol nascia ao longe, do outro lado do estuário do Tejo. Cansados vão os corpos para casa, dos ritmos imitados doutra dança... Mesmo de dentro da carruagem, pareceu-me ouvir as primeiras gaivotas a acordarem. Não sei se dura sempre esse teu beijo, ou apenas o que resta desta noite... Segundos depois, via-as, planando desordenadas, espreguiçando as asas. O vento, enfim, parou. Já mal o vejo... Uma, duas, três e um barco. Por sobre o Tejo... E de repente, do lado de cá da margem, isolada e ensolarada, a casa abandonada em que reparei à partida, no início da viagem. E já tudo pode ser tudo aquilo que parece... Feita de tijolos acimentados apenas, a casinha não tinha tecto. Dois pinheiros mansos cresciam nela, faziam de telhado. Na Lisboa que amanhece. JB

"Se te vejo, Adriana,

eu quero ir atrás de ti."


Adriana Lima
JB

quinta-feira, outubro 13, 2005

Cicatrizes

Subindo a Avenida da Liberdade, olho-me no reflexo da vitrine da Louis Vuitton e contemplo o suicídio. Observo a Uma Thurman, ali ao meu lado, e reformulo. Talvez não... Coço a barba que não tenho e sinto um ardor no dedo. Ainda? Há uns dias cortara o mindinho com a faca do pão enquanto fatiava uma bolinha para fazer torradas. Lembrava-me de gritar "merda!", de abrir a torneira e de ensopar o pão em água e sangue.
Na semana anterior não tinha sido aceite para tocar guitarra no café da esquina. Porque era muito novo, porque não podia competir com o brasileiro que faz daquilo vida, porque ainda por cima o tipo distribui panfletos aos turistas na Baixa.
Na noite passada uma miúda lindíssima dera-me tampa. Porque sabe que é linda, respondeu-me com seis sílabas secas e um esgar e foi dançar com as amigas, divertida.
Hoje, de tarde, percebi que algo se passava comigo quando, ao ver com a minha irmã o final do Sexo e a Cidade, chorei.
Agora, com a prenda da Joana na mão (uns sushis que orgulhosamente comprara num take-away mas que se revelavam inúteis porque, afinal de contas, o jantar era só depois de amanhã), olhava-me de novo na montra, mais triste que macambúzio, reflexo cinzento e sem brilho, à excepção dos olhos húmidos do frio e das lágrimas. Esfreguei os braços, desci as mangas da camisola e continuei caminho. Mais uns quarteirões...
Do Tivoli ao Marquês, percebo que a vida é mesmo feita de pequenos nadas, que a vida é simples, que a vida é isto. Sinto novo ardor no mindinho enfermo. É isso!
A vida é um dedo mindinho. Às vezes, se não temos cuidado, cortamo-nos. Quanto mais fundo o golpe, mais ele sangra, mais ele dói e mais tempo demora a sarar. Se a tratarmos bem, a ferida estanca e sara, e se por sorte o golpe não for muito fundo, não deixa cicatriz. Se o golpe for fundo mas tratarmos bem dele, deixa uma cicatriz da qual nos orgulhamos, uma cicatriz que exibimos vaidosos. Se nos esquecermos da ferida, no entanto, por muito pequena que seja, acaba por infectar.
O bom dedo mindinho não é nem o imaculado nem o que tem medo de se cortar. O bom dedo mindinho cortou-se e curou-se, sangrou e estancou, fez da ferida cicatriz. O melhor dedo mindinho...
Acordo. A ferida abrira, sangrava outra vez. Merda! Chupo o dedo para estancar. Vai deixar cicatriz. JB

Por um momento (III)

Subindo a Tomás Ribeiro, assobiando um fado triste de mãos atrás das costas, conto os loucos transeuntes com os dedos de uma mão. Olha, mais um. Não, este é só estrábico. Chego ao refrão do meu fado e sinto-me um deles. Louco e estrábico. JB

segunda-feira, outubro 10, 2005

Tudo o que apetece escrever sobre autárquicas, já a seguir

Sabes onde te digo para enfiares a maioria absoluta, meu panasca? JB

sábado, outubro 08, 2005

Dia de reflexão

Hoje, no Pavilhão Atlântico, Netinho (com Joe Papaya a abrir). Não faltar: um direito e um dever cívico. JB

quinta-feira, outubro 06, 2005

Qual é a parte de boy que não percebes, estúpida?

quarta-feira, outubro 05, 2005

O meu 5 de Outubro

O dia em que ela sorriu. JB